Imagem de angiografia cerebral de fluoroscopia em radiologia de intervenção mostrando artéria cerebral

O que você precisa saber sobre a malformação arteriovenosa cerebral

Consideravelmente menos conhecida que outras alterações neurovasculares, a malformação arteriovenosa cerebral (ou apenas MAV) é uma condição rara, mas potencialmente grave, que afeta a estrutura e a funcionalidade dos vasos sanguíneos responsáveis por irrigar o tecido cerebral.

A partir do momento em que pode levar a complicações sérias, como hemorragias cerebrais, vale a pena entender melhor quais são as suas causas, sintomas e opções de tratamento disponíveis, reforçando a necessidade de procurar ajuda especializada diante de qualquer dúvida ou suspeita.

O que define uma malformação arteriovenosa cerebral e quais as suas causas

Uma malformação arteriovenosa cerebral é uma anomalia congênita (ou seja, presente no organismo a partir do nascimento) na qual artérias e veias se conectam diretamente, formando um emaranhado de vasos sanguíneos anormais, sem uma rede de capilares viável.

Artérias, cabe reforçar, levam o sangue rico em oxigênio do coração para órgãos e tecidos. Já as veias fazem o fluxo no sentido oposto, carregando o sangue já “usado” para o coração. Os capilares, por fim, funcionam como uma conexão entre as veias e as artérias.

Desse modo, a partir do momento em que há uma conexão irregular, há o impedimento da passagem do sangue pelos capilares. Tal disposição impede que eles levem oxigênio e nutrientes aos tecidos cerebrais entremeados pelas malformações.

Adicionalmente, o fluxo sanguíneo apresenta uma série de perturbações, elevando a pressão nas veias e as tornando mais frágeis. Assim sendo, essas estruturas ficam mais suscetíveis a rupturas.

Embora a maioria das MAVs seja congênita, parte delas vai se manifestar apenas na vida adulta. Seja como for, o que leva a tal alteração ainda não é bem compreendido.

Episódios anteriores em uma mesma família talvez aumentem a chance de que uma MAV se desenvolva, mas isso não isenta quem não tenha histórico familiar desse risco.

Leia também: Entenda as abordagens endovasculares nos tratamentos para aneurisma cerebral

Os principais sintomas e eventuais complicações decorrentes de uma MAV

Para reforçar o quão rara uma MAV pode ser, estima-se que elas atinjam apenas um indivíduo a cada grupo de 100 mil pessoas. A partir disso, elas são responsáveis por cerca de menos de 1% de todas as hemorragias cerebrais.

Ainda assim, muitos daqueles com uma malformação arteriovenosa cerebral não apresentam sintomas e só descobrem a condição por acaso, durante exames de imagem realizados por outros motivos. Os médicos chamam isso de descoberta incidental.

Nos casos em que há sintomas, os incômodos mais notáveis podem incluir:

  • Dores de cabeça intensas e recorrentes, muitas vezes localizadas em uma região específica;
  • Fraqueza ou dormência em partes do corpo, com perda de sensibilidade da pele;
  • Dificuldades na fala ou na visão;
  • Comprometimentos cognitivos e de memória;
  • Crises epilépticas e convulsões.

Esses sinais podem indicar algumas das complicações associadas a uma MAV. A mais preocupante delas é a já citada hemorragia cerebral, que ocorre quando os vasos anormais se rompem.

Essa condição é uma emergência médica e pode levar a sequelas neurológicas permanentes ou até mesmo à morte.

Existe ainda o risco da formação de um aneurisma, chamado aneurisma de fluxo ou intranidal, ou mesmo de um acidente vascular cerebral isquêmico (AVC). Ele acontece por conta de uma espécie de desvio do fluxo sanguíneo, limitando a irrigação sanguínea e a oferta de oxigênio em parte do tecido cerebral.

A necessidade de intervenção para tratar uma malformação arteriovenosa

O diagnóstico de uma malformação arteriovenosa é feito sobretudo através de exames de imagem. Os mais utilizados são a ressonância magnética, a tomografia computadorizada e a angiografia cerebral.

Com essas informações em mãos, o médico pode classificar a alteração de acordo com seu grau de evolução. A escala mais utilizada para isso é a classificação de Spetzler-Martin, que vai de patamares de 1 a 5 conforme a gravidade identificada.

De qualquer maneira, a decisão de intervir depende de fatores como o tamanho da MAV, sua localização, a presença de sintomas e o risco de hemorragia, bem como a condição geral de saúde do paciente.

Eventualmente, aqueles assintomáticos e com alterações pequenas sem risco identificável podem ser apenas monitorados regularmente. Todavia, o tratamento é indispensável quando já houve uma ruptura ou há uma chance de que isso aconteça.

As possibilidades do tratamento endovascular

Entre as abordagens disponíveis, o tratamento endovascular visando a embolização (que bloqueia o fluxo sanguíneo em determinada localidade) tem se destacado como uma opção minimamente invasiva e eficaz.

Esse procedimento envolve a inserção de um cateter através de uma artéria na virilha, que é guiado até a malformação.

Uma vez no local, são utilizadas substâncias embolizantes para obstruir os vasos anormais, reduzindo o fluxo sanguíneo e o risco de ruptura. As principais vantagens de tal alternativa são:

  • Procedimento menos invasivo, se comparado às cirurgias abertas;
  • Recuperação mais rápida;
  • Risco reduzido de complicações.

Todavia, em casos mais complexos, o tratamento endovascular pode ser combinado com outras técnicas (como uma neurocirurgia ou uma remoção cirúrgica convencional) para garantir os melhores resultados e até mesmo radiocirurgia.

Seja como for, a malformação arteriovenosa cerebral é uma condição complexa que exige avaliação cuidadosa por uma equipe multidisciplinar, incluindo nisso o neurorradiologista intervencionista, que através do tratamento endovascular propicia uma opção segura e efetiva para o manejo dessa patologia.

Aproveite e confira agora as vantagens dos tratamentos endovasculaves diante da ateromatose carotídea, um outro tipo de doença neurovascular.

Referências

O que é uma malformação arteriovenosa (MAV) ?
https://sbnr.org.br/2013/08/13/mavs/

Arteriovenous Malformations (AVMs)
https://www.ninds.nih.gov/health-information/disorders/arteriovenous-malformations-avms

Arteriovenous Malformation of the Brain
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK430744

A systematic review of the frequency and prognosis of arteriovenous malformations of the brain in adults
https://academic.oup.com/brain/article-abstract/124/10/1900/333474?redirectedFrom=fulltext

Spetzler-Martin arteriovenous malformation grading system
https://radiopaedia.org/articles/spetzler-martin-arteriovenous-malformation-grading-system-2

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